segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Biblioteca do P2 (2)

Volto a dar dicas de leitura, e nesse post, além de livros sobre bebidas, são também livros de história.

O primeiro livro é "História do Mundo em 6 Copos" de Tom Standage (Jorge Zahar Editor). O autor conta a história da civilização traçando um paralelo com 6 bebidas, cerveja, vinho, destilados, café, chá e Coca-Cola.



O livro começa com a cerveja, com a expansão da agricultura na região do Crescente Fértil, passa pela criação da escrita e fundação das primeiras cidades, e vai até o uso da cerveja (e do trigo e cevada, e pão) como moeda e pagamento.
A próxima bebida é o nosso querido vinho, e a história vai se deslocando para Grécia e Roma. Os simpósios gregos que uniam vinho e competições intelectuais, ou o começo da diferenciação que os romanos trouxeram à bebida, transformando o vinho em símbolo de status. E o uso medicinal do vinho por Galeno, médico do imperador Marco Aurélio.
Depois temos os destilados, mostrando a importância dos árabes em reunir conhecimentos das culturas greco-romana, persa, chinesa, entre outras e avançar em vários campos das ciências. Fala também das Grandes Navegações, mas os destilados também tem sua imagem um pouco manchada pelo alto uso de mão de obra escrava nas plantações de cana de açúcar do Novo Mundo, de onde saiam açúcar para a Europa e como sub-produto tinha o rum, fomentando o comércio triangular de escravos-açúcar-rum.
Após as 3 bebidas alcoólicas, temos o café, representando o Iluminismo e pensamento racional. O café é importante também pelo seu local de consumo, os cafés públicos, onde, além de consumir o café, os frequentadores podiam debater, discutir teorias e até tramar as revoluções!
Chegou a vez do chá, e com ele temos o Império Britânico, onde o sol nunca se põe! Mas também temos a milenar história da China, a Companhia das Índias Orientais, comércio e colonização da Índia, a Guerra do Ópio, a Revolução Industrial.
E a última bebia é Coca-Cola, representando a ascensão norte-americana, a criação da linha de montagem, consumismo de massa. A Coca era uma bebida para todas as idades, para todas as horas. Hoje vivemos em um mundo globalizado, e um dos primeiros produtos globais foi a Coca-Cola com sua garrafa e logo inconfundíveis.


O segundo livro é Vinho & Guerra - Os franceses, os nazistas e a batalha pelo maior tesouro da França, de Don e Petie Kladstrup (Jorge Zahar Editor).


Na bastou invadir a França e marchar sobre Paris, o Füher e seu alto comando queriam mais, queriam a alma dos franceses, seus vinhos! Mas os franceses não queriam deixar isso acontecer, não importa se o preço a pagar fosse a vida.
Enquanto as mais famosas regiões vitivinícolas do mundo eram ocupadas, os responsáveis por esses vinhos e vinhedos tentaram de várias formas proteger o tesouro líquido francês.
Como disseram os autores: "Embora este livro trate de vinho e guerra, não é um livro sobre vinho, realmente não, e tampouco é um livro meramente sobre a guerra. É um livro sobre pessoas, pessoas que verdadeiramente transpiram  espirituosidade, alegria e bom gosto, e cujo amor à uva e devoção a um gênero de vida as ajudou a sobreviver a um dos capítulos mais negros e mais difíceis da história da França e a triunfar sobre ele.".

A harmonização da paleta

Depois de prepar a paleta, veio a segundo parte, harmonizar ela com 3 vinhos.



Nessa tarefa difícil contei com o apoio dos meus colegas enólogos Eduardo Milani e Lucas Sartori. Cada um trouxe um vinho para escolhermos o que melhor harmonizaria com o prato.

Os vinhos escolhidos foram:
-Almadén Tannat 2011 - Campanha, Brasil (Miolo). Um belo exemplo de como a uva tannat se adapta na campanha gaúcha.
-Catedral Reserva 2008 - Dão DOC, Portugal (importado pela Domno). Da tradicional região do Dão, um corte de tinta roriz (50%), alfrocheiro (30%) e touriga nacional (20%).
-Vistalba Corte C 2011 - Mendoza, Argentina (importado pela Domno). Um corte de malbec (92%) e cabernet sauvignon (8%).

A nossa metodologia foi a seguinte: degustar junto com o cordeiro e discutir separadamente cada um dos vinhos, dando uma nota de 0 a 10 para a harmonização. Começando do mais antigo para o mais novo.

Em primeiro lugar degustamos o Catedral, um vinho de 5 anos. O vinho é muito bom, mas na harmonização ele se sobressaiu ao prato, deixando apenas o retrogosto frutado do vinho. Nota 7,3.



Em segundo degustamos o Almadén, 2011 como o Vistalba, mas de menor teor alcoólico. O Almadén foi a surpresa do almoço, apesar de ser o mais barato, ele casou bem com o prato, ficando devendo um pouco em estrutura. Nota 8,2.


Por último o Vistalba, um malbec com alto teor alcoólico, que combinou muito bem com o prato, servindo de suporte para ele. Nota 9.



Como dito no post anterior, era domingo de Gre-Nal. E domingo de Gre-Nal só termina bem quando o jogo acaba e o Inter vence! Mas, seguindo a tendência dos últimos anos, é mais provável que o jogo seja feio e termine empatado, o que aconteceu.
Mas analisando o domingo como um todo, digamos que foi um bom domingo, um bom cordeiro de almoço, acompanhado de 3 bons vinhos e boa conversa com os amigos! Que todos domingos possam ter esses elementos, ou pelo menos um deles!